Braga - Comércios com História

Olhar Braga

"Comércios com História"

A Literatura, o Património bracarense e a escrita criativa

Em 2017-2018, a Biblioteca Escolar e a Área Disciplinar de Português lançaram o projeto Olhar Braga destinado a alunos do 10º ano, desafiando-os a darem provas da sua criatividade, produzindo histórias que envolvessem espaços museológicos e comerciais que tinham visitado na cidade.

No ano seguinte (2018-2019), o repto lançado a alunos de 10º ano (10º1, 10º3, 10º4, 10º5, 10º7, 10º9 e 10º 10) foi idêntico, associando o conhecimento do património local com a escrita criativa. Para os alunos de 11º ano (11º1, 11º2 e 11º5) foi mais ambicioso: para além de referirem os espaços visitados (sempre numa perspetiva de lhes dar o relevo que a globalização e o desconhecimento ofuscam - e que tantas vezes levam ao seu desaparecimento!), os alunos deveriam também estabelecer um diálogo entre os textos a produzir e as obras literárias estudadas[1] no programa de Português do 11º ano que lhes serviriam de hipotexto. Para além de fomentar o gosto pela leitura dos grandes autores, este trabalho de intertextualidade permitiu-lhes também uma reflexão e abordagem atualizada de questões transversais e intemporais da condição humana referidas na literatura. Para o efeito, foi dada aos alunos a possibilidade de escolherem um ou mais dos espaços visitados em Braga, uma ou mais obras e de reinventarem ou darem continuidade aos enredos, às personagens ou às temáticas.

Queremos agradecer a colaboração, dada na fase de preparação, do Dr. António Mendes, que proporcionou aos alunos de 10º ano a "Oficina de Escrita Criativa". Agradecemos, também, a simpatia com que os responsáveis dos diferentes espaços receberam os grupos de jovens e, finalmente, realçamos a excelente oportunidade que a Câmara Municipal, na pessoa da Dra. Lídia Dias, nos proporcionou ao disponibilizar a impressão destas brochuras.

E, mais uma vez, os trabalhos produzidos pelos nossos alunos de 10º e 11º anos revelam a capacidade criativa dos nossos jovens e são motivo de imenso orgulho para todos nós - para a Escola/Agrupamento, para os espaços visitados e para a "personagem principal" - a cidade de Braga!

Delicie-se, caro leitor!

[1] Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett; Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco; Os Maias, Eça de Queirós;

O Livro de Cesário Verde, Cesário Verdear Braga

Mercearia S. João


Braga, Cidade Impetuosa


Eva Fernandes
Joana Macedo
Luísa Martins
Margarida Gomes
Katia Fernandes

A mercearia foi criada nos princípios de 1894 e fez agora, em 2019, 125 anos. É a mais antiga da cidade de Braga. Está localizada no centro histórico da cidade, nas traseiras da Sé Catedral, e teve sempre um papel relevante para a população bracarense. No tempo da 2° Guerra Mundial, era a mercearia que mais senhas recebia (as pessoas no tempo da guerra tinham de ter senhas para ir buscar arroz, massa, azeite, açúcar...). Atualmente, esta mercearia faz parte de alguns roteiros turísticos da cidade e é muito visitada.

No reduzido espaço, repleto de bacalhaus verdadeiros e outros fingidos, passam muitos turistas que se encantam com os muitos artefactos usados antigamente, digo, há sessenta ou mais anos. São balanças decimais, balanças de dois pratos, medidores de azeite e de petróleo, moinhos de café, candeeiros a petróleo e facas para cortar o bacalhau que apenas estão em exposição.

Voltando à tradição da venda do bacalhau, a Mercearia de S. João exibe, na rua, junto às duas portas de entrada, alguns bacalhaus talhados em madeira com alusões à sua origem nos mares do norte, o que desperta a atenção dos transeuntes, mesmo os menos atentos. Também, como acontecia neste tipo de estabelecimentos, o proprietário, o Sr. Machado, chega-se à porta e vai conversando com os seus clientes, dando-lhes conta das mercadorias recentemente recebidas, tendo com eles uma relação muito próxima. Por ali passaram outros merceeiros como o Sr. Araújo e o Sr. Vilaça que foram passando a tradição de geração em geração.

Para além do bacalhau, há outros produtos a peso, fazendo lembrar o tempo do "Quero meio quilo de açúcar...", como referem, muitas vezes, os nossos avós.

Esta mercearia é uma referência na cidade de Braga.

Encontro na mercearia

Eva Fernandes
Joana Macedo
Luísa Martins
Margarida Gomes
Katia Fernandes

Tudo começou no dia 21 de dezembro de 1915, quando a minha mãe me pediu para ir buscar um bacalhau para a ceia de natal à mercearia São João, muito perto da minha casa.

Ainda me lembro de como estava vestida! Usava um vestido cinzento comprido, pois naquela época não era bem-visto uma rapariga usar um vestido acima dos joelhos. No caminho, começou a chover e eu estava sem guarda-chuva, então fui acelerando o passo. Quando cheguei à mercearia, estava toda atrapalhada e fui contra um rapaz. O rapaz era alto, magro, de pele branca, loiro, de olhos azuis e tinha um olhar que nunca mais vou esquecer. Pedi-lhe desculpa e ele sorriu - me. Esse sorriso marcou o início da nossa história. Dirigi-me ao senhor António Joaquim Cardoso, que era um amigo de longa data da minha família, para pedir o bacalhau que a minha mãe tinha reservado. À saída da mercearia, ele olhou para mim, com aqueles olhos cor de oceano e, naquele momento, as preocupações desapareceram. Durante a caminhada, até casa, não parava de pensar nele, no seu olhar que não me saía da cabeça, só queria voltar à mercearia para ver se ele ainda lá estava.

Para minha sorte, no dia seguinte, a minha mãe pediu-me para ir dar um recado ao senhor António. Na mercearia, não parava de olhar para a porta para ver se ele aparecia. Depois de ser atendida, o senhor António lembrou-se que um rapaz chamado Luís me tinha deixado uma carta. Entregou-ma. O meu coração batia num ritmo tão acelerado que parecia querer pular para fora do peito tal era a expectativa quanto à mensagem que tinha para ler. Li a carta e senti uma coisa que nunca antes tinha sentido...acho que era amor. Já andava a bailar dentro de mim havia dias! Respondi-lhe e, desde então, o Senhor António passou a ser o nosso "pombo-correio" e a mercearia era o nosso lugar. Todas as quartas-feiras, prestava ajuda à minha mãe fazendo-lhe os recados e aproveitava para passar na mercearia e levantar a minha carta. Era o meu momento especial, embora a tristeza estivesse presente pela sua ausência. Mas como em todas as histórias de amor, há um momento em que se pode despertar para uma realidade menos boa.

Uns meses depois, Portugal foi chamado para a guerra e o Luís, como todos os rapazes da sua idade, foi recrutado. Tinha que partir e deixar-me. Andei alguns dias sem conseguir comer e os meus pais começaram a estranhar, pois não era normal, até que chegou o dia da sua partida.

Acordei cedo, depois de uma noite de sobressalto fui ter com ele à estação de comboios. Mal lá cheguei, ouvi o meu nome:

- Marília, Marília! Estou aqui! Espera!

Virei-me para trás e ali estava ele, o Luís com quem eu sonhava a todo o momento. Corri na sua direção e abracei-o. Os meus braços pareciam crescer à medida que o envolvia. Olhamos um para e beijámo-nos. Foi o nosso primeiro beijo!

Passado pouco tempo, despedimo-nos e as nossas mãos não se queriam largar, até que se ouviu um apito estridente, alertando para o momento da partida do comboio. Foi nesse momento que, forçadamente, nos tivemos de separar. Ele entrou na carruagem e sentou-se à beira da janela. Olhamos um para o outro, as lágrimas começaram a correr e ambos choramos. Fiquei a olhar fixamente para aquela janela do comboio. Foi-se afastando cada vez mais, apenas via a traseira da última carruagem com varandim, até que desapareceu. Até hoje, ele foi o amor da minha vida! Durante algum tempo, estive à espera de uma carta sua, porém nunca soube se ele a enviou, pois tive de mudar de cidade. Nunca soube se ele chegou ou não da guerra.

Ainda hoje, recordo o alongar dos meus olhos que acompanhavam o movimento das carruagens puxadas por uma locomotiva a carvão que deixava um rasto de fumo que, depois de ter provocado muitas lágrimas, desapareceu na aragem como aconteceu ao meu amor de quem nunca mais tive notícias.

Uma flor no café da Brasileira

Sofia Silva Freitas

Aquele sábado tinha sido inesquecível para ambos. A Maria, uma menina de oito anos, tem os pais separados e era o fim de semana do pai. Combinaram ir ao parque aquático logo de manhã cedo e passarem o dia todo lá. Foi o que aconteceu, levaram almoço para comerem no parque e andaram em todos os escorregas que lá havia. Saíram do parque aquático, já tarde, pois quiseram aproveitar o tempo todo, e assim que saíram decidiram ir jantar a casa. Não era a vontade de Maria, no entanto o pai prometeu-lhe que no fim de jantar iam dar uma volta à cidade.

A Maria ajudou o pai a cozinhar, jantaram os dois e, no fim, sentaram-se no sofá para poderem descansar um bocado. Alguns minutos mais tarde, o pai olha para a filha e repara que ela tinha adormecido no seu colo. Pegou nela e levou-a para a cama, para poder dormir descansada.

Eram 9.00 horas da manhã de domingo e o pai acordou para fazer o pequeno-almoço para os dois. Meia hora mais tarde, a Maria desceu e à mesa começaram a conversar sobre o que iam fazer nesse dia, em que o sol brilhava e o céu estava limpo.

O pai teve a ideia de irem fazer um piquenique, visto que no dia anterior tinham jantado em casa, assim iam almoçar fora. Prepararam tudo e foram para um jardim muito bonito, comer o que tinham preparado. Estavam rodeados de flores e o pai, com um gesto intenso de carinho, pegou numa flor amarela e ofereceu-a à sua filha:

-Assim como ofereci à tua mãe uma, ofereço-te a ti, que agora és a única mulher que me interessa.

A filha, curiosa com o seu passado familiar, pegou na flor que o pai ofereceu e perguntou-lhe o que tinha acontecido entre ele e a mãe:

-És demasiado nova para perceberes, princesa - respondeu o pai.

-Talvez eu não perceba, porque vocês nunca me quiseram explicar - e do nada, o pai começa a contar a história.

A Maria ficou surpreendida, por descobrir o que a falta de vontade de ajudar pode causar. O pai completamente triste confirma:

- Por causa do que fui antes, perdi o que mais amava e agora só te tenho a ti.

Sentindo-se desiludido, pediu desculpa à filha pelo mal que lhe provocou e abraçou-a. Esta aceitou as suas desculpas e pediu ao pai para à noite irem dar a volta pela cidade como tinham combinado.

Sem hesitar, o pai concordou com a Maria e já bem à noite, saíram de casa em direção à cidade.

Decidiram parar num café, aquele que tem o mais conhecido café de saco. Enquanto o pai bebia o café, a filha pousou a flor que ele lhe dera na mesa. Repentinamente, uma senhora belíssima, puxa a cadeira para trás e senta-se junto da filha.

O pai, surpreendido, pergunta o que está a acontecer e a filha responde-lhe:

-A mãe já me tinha contado a vossa história e disse-me que foi precisamente neste café que se conheceram e que todos os domingos à noite vinham aqui.

Pegou na flor e deu-a ao pai, sussurrando-lhe ao ouvido:

-Diz-lhe o que me disseste no jardim.

-Ofereço-te agora a ti, que és e sempre foste a mulher da minha vida - esticou o braço e deu-lhe a flor.

A mãe, com as lágrimas nos olhos, pegou na flor, abraçou-o e disse:

-A Brasileira é conhecida pela pureza do seu café e eu conheci o homem que me persegue pela pureza do seu amor, neste lugar e a beber o mesmo de sempre.

Desde esse dia, todos os domingos à noite, a Maria e os pais vão à cidade para tomarem o café de saco na Brasileira, unidos novamente pelo amor.

O golpe do café Vianna

Marco Lima
Rui Silva

Era o ano de 1858, reinava Pedro V, denominado por ''O esperançoso''.

Manuel da Costa Vianna, na altura com 33 anos, era um fanático pela leitura e filosofia, tanto que deu início à leitura de uma obra de Cícero, na qual diz que é preciso haver uma comunidade de interesses e de fins, um consenso do direito, liberdade do povo para que haja mais felicidade dos cidadãos.

Com estas ideias em mente, com a vida que ele e a sua família levavam e também com a vida que a monarquia proporcionava ao povo português, decidiu começar um movimento que pudesse instaurar uma república. Começou por criar uma pequena aliança com pessoas poderosas económica e socialmente e que partilhavam da mesma opinião que ele. Porém, necessitavam de um espaço para as suas reuniões. Decidiram comprar um estabelecimento localizado na que viria a ser a Praça da República, no centro de Braga. No entanto, como era uma zona movimentada tiveram a ideia de criar um café durante o dia e um local de tertúlia à noite.

Passados alguns anos, e já no reinado de D. Luís I, passou de um pequeno movimento com algumas pessoas com ideias revolucionárias para algo pujante, mais credível, ambicioso e poderoso.

Com a ânsia de chegar ao principal objetivo, foram juntando pessoas, com mais rapidez, e descuidadamente foram perdendo o sigilo. Como consequência, o rei D. Luís I ficou a saber do movimento. Conseguiu comprar um dos fundadores da Aliança, que lhe contou onde se reuniam e no que se baseava o plano, em troca de passar a ser o seu braço-direito, deitando tudo, pelo que lutaram, a perder.

Percebendo que já tinha ganho, acreditando vivamente no que este membro da Aliança lhe tinha contado, D. Luís I começou a preparar a sua emboscada ao Café Vianna. Passaram-se algumas semanas. O membro que se rendeu às ofertas do rei continuou a assistir às reuniões como se nada tivesse acontecido, fingindo estar interessado nas propostas e teorias apresentadas. Numa noite igual às outras, enquanto discutiam entre si acerca do plano para aplicar o golpe, começam a ouvir um barulho estrondoso, o chão tremia. Pensavam ser um tremor de terra, muito assustados e sem saber o que fazer colocaram-se todos por baixo da mesa. O barulho finalmente parou. Quando saíram de baixo da mesa, desejaram ter sido um tremor de terra. Estavam na presença do rei D. Luís I e todos os seus melhores militares que marchavam em direção ao café. D. Luís I apenas ergueu a sua espada, trouxe o membro que se rendeu às suas ofertas para a sua frente, e com um golpe forte na cabeça exclamou ''Quem conspira contra o rei nas suas costas, sofre as consequências''. Os militares, friamente, trataram de acabar com o resto dos membros.

O café Vianna permanece intacto até hoje, servindo de exemplo a quem tentasse um golpe igual, tanto no seu reinado como em reinados posteriores, sem deixar de ser um local alusivo à liberdade de pensamento.

"Doçaria S. Vicente"

As tíbias e o famoso doce sortido

Alexandre Gomes
Carolina Sá

Era uma vez um padre e uma freira. Frequentavam a Sé de Braga e a Igreja de S. Vicente. Um dia o padre foi celebrar uma missa em homenagem às freiras e apaixonou-se por uma delas. Essa freira tinha entrado havia três meses para o convento e quando viu o padre apaixonou-se por ele, mas sabia que não podia avançar porque era proibido.

Certo dia, o padre foi rezar na Igreja de S. Vicente, encontrou-a novamente e disse-lhe que queria estar com ela. Marcaram encontro às 23.00 h, no famosíssimo Jardim de Stª. Bárbara, e tiveram uma longa e agradável conversa. Falaram sobre diversas coisas, o que gostavam mais de fazer e o que mais apreciavam, mas o aspeto que mais marcou a sua conversa, é que ambos estavam apaixonados.

Algum tempo se passou e eles revelaram gostar de aventuras, digamos, perigosas.

Decidiram, então, invadir a mais famosa doçaria da cidade, a Doçaria de S. Vicente, que ambos frequentavam diariamente. Este estabelecimento foi fundado em 1829 e é uma referência incontornável na pastelaria bracarense. Foi nesta casa, localizada na Rua Conselheiro Januário, nº 151, mesmo em frente à entrada da Escola Secundária Sá de Miranda, onde o padre e a freira estudaram. Basicamente, o doce sortido consiste em pequenos bolinhos que seguem a rigor a receita original das doceiras de S. Vicente, uma receita que remonta a finais do século XVIII. É um doce muito apreciado para acompanhar o chá e a sua variedade adapta-se a todos os gostos. Outro doce bastante conhecido é a tíbia, muito procurada pelo delicioso creme que a recheia.

Visto que a freira adorava tíbias e o padre o doce sortido, optaram por assaltar a doçaria e roubar a receita original dos dois bolos. Como gostavam de coisas diferentes, decidiram dividir-se em secções. Traçaram o plano para a sua grande aventura, até ao dia previsto.

O DIA CHEGOU...

Esperaram que os funcionários saíssem e fechassem a loja e avançaram cautelosamente. Ao entrar na loja, como combinado, dividiram-se pelas suas secções. Na secção das tíbias, a freira não resistiu a uma apetitosa tíbia e comeu-a. Já o padre, no meio de todos os doces sortidos, encontrava-se a comer um de cada variedade.

Meia hora se passou e o padre e a freira saíram com sacos cheios de tíbias e doces sortidos e as suas receitas. Dirigiram-se para a igreja de S. Vicente, ali ao pé, e decidiram ir viver para fora do país, mas teriam que ter algo para se sustentarem, uma vez que deixaram as suas vidas votadas a Deus e passaram a ter uma vida no mundo dos laicos.

Os dois pensaram muito até que tiveram uma ideia. Irem viver para outro país; era uma ótima ideia, mas para ser ainda melhor, darem a conhecer os famosos bolos que roubaram. Como naquele país ninguém conhecia aqueles bolos, deram-nos a provar e os habitantes ficaram encantados e pediram para que estes começassem a vendê-los. Expandiram o seu negócio e começaram a ganhar bastante dinheiro, até que, mais tarde, decidiram voltar a Portugal para se casarem na Igreja de S. Vicente onde se conheceram e se apaixonaram.

Doçaria de S. Vicente

Bruno Santos

Decorria o ano de 1829 e os habitantes da cidade de Braga, devido às invasões francesas, sofriam uma grande crise de hipoglicémia.

Os irmãos Pereira, tentando contornar tal facto, e porque já se constatava na cidade a sua habilidade para confecionar doces, decidiram que poderiam dar novo rumo às receitas da doçaria conventual que haviam herdado dos seus antepassados.

Deste modo, criaram o sortido, o pão-de-ló e o bolo-rei que ainda hoje são apreciados na cidade.

Para iniciar tal negócio e visto que a manufatura era escassa, estes irmãos abriram uma loja onde trabalhavam dia e noite para poder produzir os seus produtos. De louvar o facto de todos os dias a irmã mais nova se dirigir à Se de Braga e oferecer os restos dos bolos diários a todos aqueles que por ali passavam. Porém, o centro bracarense mudara-se para a Avenida Central e a jovem, certo dia, quando andava pela urbe a distribuir doces aos mais necessitados, é abordada por um cavalheiro de chapéu negro, faixa vermelha ao peito e cavalo branco, que a questiona acerca do conteúdo daquele belo e enfeitado cesto de vime.

A senhorita envergonhada e de olhos baixos, pelo preconceito à época em manter diálogo com um homem, explica que, todos os fins de dia, se dirige ao centro da cidade e oferece os bolos não vendidos e produzidos pela família.

A curiosidade do cavalheiro manteve-se e quis conhecer o local onde a doçaria era manufaturada.

Hoje, a doçaria de S. Vicente é um local próspero e conceituado na cidade, porque se acredita que teve a bênção de Napoleão.

Bananeiro

Laura Martins
Marta Rocha
Mariana Silva

Na noite do dia 24 de dezembro de 2005 decidi ir à festa do Bananeiro na rua do Souto.

O Bananeiro está situado na rua do Souto e a banana e o copo de moscatel tornaram-se numa das maiores tradições natalícias da cidade bracarense. Começou na loja, mas rapidamente se espalhou pela rua e arredores.

Estava uma noite fria, só tinha levado um vestido de alças e um casaco de malha fino e por isso estava a tremer que nem uma vara tonta (não sei o que me tinha passado pela cabeça).

Ao entrar no Bananeiro, vi todas aquelas pessoas embriagadas e decidi provar o famoso moscatel com banana. Depois de algumas rodadas de moscatel, comecei a sentir o calor do álcool a subir à cabeça abafando o ardor da garganta, acabei por ficar fora de mim e a deixar de responder pelas minhas próprias ações.

Passaram-se algumas horas. Enquanto dançava, esbarrei-me com um rapaz alto, moreno, de olhos escuros, que estava com os seus amigos. De imediato pedi desculpa, contudo ele revelou-se um idiota:

-Vê lá por andas, rapariga - Disse o rapaz misterioso.

-Eu já pedi desculpas! - Respondi com um tom de voz acima do que esperava.

Podem ter sido as três garrafas de moscatel que me deram coragem para responder assim. Como já estava demasiado alterada para sequer aguentar em pé, decidi que estava na hora de ir embora. Sei que não é boa ideia conduzir embriagada, mas no momento ignorei isso completamente.

Já no carro, ao fazer marcha-atrás, bati contra um carro que estava estacionado a poucos metros. Entrei em pânico. Olhei ao meu redor e apercebi-me de uns olhos furiosos que olhavam na minha direção. Infelizmente, percebi que aqueles olhos pertenciam a uma cara familiar. Era aquele rapaz mal educado da festa. Fui ter com ele, ainda um pouco assustada, e ele perguntou-me se estava bem. Falámos durante algum tempo e concordamos trocar números de telemóvel para tratar do assunto noutro dia, logo depois de me levar a casa.

Após aquele dia, fomos falando regularmente, e descobri coisas que tínhamos em comum. Aquela ideia que tinha acerca do rapaz mal educado e resmungão, que se formara desde a primeira vez que esbarrei contra ele, mudou completamente. Agora, no ano 2019, somos casados, temos dois filhos e estamos muito felizes, tudo graças ao Bananeiro.

A Paixão do Folclore

David Silva
Francisco Fernandes
Nuno Carvalho

Esta história passa-se na década de sessenta e fala sobre uma rapariga de quinze anos chamada Rosinha que vinha de uma família pobre, mas honesta e vivia com os seus seis irmãos e irmãs e com os seus pais.

A família de Rosinha tinha a tradição de andar num grupo de folclore que dançava em festas populares. Rosinha era dos seis irmãos aquela que se destacava mais a dançar.

Com o S. João a chegar, o grupo de Rosinha foi convidado a atuar no festival com outros grupos.

Durante o festival, Rosinha embate com um rapaz chamado Tone que dançava num outro grupo. Desde o momento em que se conheceram, deram-se bem e decidiram marcar um encontro na doçaria de S. Vicente.

Passados alguns anos, os dois amigos envolveram-se numa relação e aos vinte e dois anos, decidiram casar na doçaria de S. Vicente, onde organizaram uma grande festa com muita música e dança. Alguns anos depois, Rosinha e Tone tiveram dois filhos. Alguns meses depois do nascimento do segundo filho, Tone descobriu que tinha uma doença grave por isso o casal fez uma promessa que após a morte de um deles, o outro deixaria de dançar.

Passados alguns meses, Tone acabou por morrer. Como já não fazia sentido dançar sem o seu amado, Rosinha decide abandonar a dança e doar a sua farda ao Museu do Traje para que toda a gente pudesse conhecer o folclore.

A última visita

João André Freitas
João Lages
Tatiana Gomes

Era dia 19 de dezembro de 2015, Diogo estava a preparar-se para entrar no avião dos Açores

com destino a Portugal Continental, mais propriamente Braga. Diogo era um rapaz

problemático, desde criança os seus país não estavam presentes, o seu pai tinha emigrado para outro país e a mãe trabalhava a tempo inteiro.

Com 16 anos, decidiu ir viver com os tios em Braga, mas como já tinha problemas viu-se

tentado a entrar no mundo do tráfico das drogas. Começou por explorar a cidade tentado

encontrar o melhor lugar para expandir o seu negócio. Visitou locais importantes da cidade

tais como a Igreja S.Vicente, construída no estilo barroco, e como é o primeiro edifício com

esse estilo, em Braga, é bastante frequentado. Passou de seguida pela doçaria de S.Vicente que lhe despertou interesse devido ao seu sistema de entregas ao domicílio e também porque tinha os doces tradicionais da cidade, tal como a tíbia, mas achou que seria demasiado suspeito, por isso continuou a sua busca do lugar perfeito para o seu tráfico de drogas. Em seguida passou pela Igreja dos Congregados considerada uma das obras-primas da arte bracarense e portuguesa sendo a fachada uma das mais extraordinárias e emocionantes obras do barroco português.

Passou pelo palácio do Raio que tinha sido restaurado nesse ano e que desde então era um

centro interpretativo completo que, ao longo de dez salas, mostra peças do espólio da Santa Casa da Misericórdia de Braga que conta com mais de quinhentos anos de história. Pelo jardim de Santa Bárbara que é repleto de arbustos e flores, com uma fonte e uma estátua da Santa que dá nome ao jardim e, por último, o que lhe despertou mais interesse, o Bananeiro, pois era época natalícia e muitas famílias têm a tradição de lá festejar com o célebre copo de vinho do Porto e a também tradicional banana.

Diogo viu ali uma oportunidade de ganhar dinheiro rapidamente. Começou a passar mais tempo no local procurando parceiros para o seu negócio. Falou com várias pessoas até que abordou um homem, já adulto, com os seus quarenta e tal anos, que parecia bastante interessado no seu produto. Mal sabia Diogo que esse homem era na verdade um agente infiltrado de um já traficante que soube que lhe estavam a tentar roubar o negócio.

Diogo e o interessado combinaram uma hora para a sua primeira entrega, mas na verdade tudo aquilo era uma armadilha orquestrada por Rogério, o até então, maior traficante da zona. Rogério e seu capanga levaram Diogo para o jardim de Santa Bárbara com intenção de não dar nas vistas. Têm uma breve conversa até que Rogério revela as suas intenções que eram desde o início ver-se livre do jovem podendo assim continuar o seu negócio.

O corpo de jovem foi encontrado sem vida no meio de um dos canteiros do jardim de Santa Bárbara e mais tarde foi enterrado no cemitério municipal de Monte d'Arcos, terminando assim a sua jornada.

O amor censurado - Brasileira

Alexandra Magalhães

Íris Ferreira

Numa bela e ensolarada tarde de domingo, Pedro e sua família decidiram ir lanchar a um agradável e vetusto café localizado na bela cidade de Braga chamado «A Brasileira».

A Brasileira é um estabelecimento comercial, com mais de cem anos. Mantém a traça original, com grandes espelhos dourados nas paredes e mesas redondas com tampos de vidro, sempre decoradas com flores.

Pedro era um rapaz charmoso, cavalheiro, alto, bem estruturado, com cabelo escuro e suave. Tudo era perfeito nele incluindo os seus lindos olhos verdes que contrastavam com a sua tez morena. Enquanto lanchava tranquilamente com os seus parentes, algo cativou a sua atenção: uma elegante rapariga, com longos cabelos pretos, pele morena e olhos azuis encontrava-se na mesa em frente a desfrutar igualmente, como ele, aquela tarde com a família. Pedro ficou de tal maneira conquistado por ela que lhe era difícil desviar o olhar. A jovem ao sentir-se observada, perscrutou em sua volta e, foi aí que o viu. A partir desse momento, ambos ficaram constantemente a trocar olhares e sorrisos de uma mesa para a outra.

Após bastante tempo, a moça levantou-se e dirigiu-se à casa de banho situada num sítio reservado dentro d" A Brasileira". O jovem, ao vê-la levantar-se, seguiu-a e encontrou-a à porta da casa de banho. Perguntou-lhe o nome e ficaram durante bastante tempo a falar. Ao despedir-se de Ara, Pedro convida-a para se encontrarem no domingo seguinte, dia da ceia de Natal, à porta do Bananeiro. Perante tal proposta, Ara não hesitou em aceder ao seu pedido e determinaram trocar contactos e, quer um quer outro, regressaram aos seus lugares como se nada se tivesse passado no decorrer da ida demorada à casa de banho.

Ao longo da semana, nenhum dos dois se esqueceu do momento partilhado no fim-de-semana passado e viviam ansiosamente pela chegada do dia combinado.

O dia tão esperado chegou e Ara começou a arranjar-se logo de manhã cedo, estando sempre receosa de não conseguir escapar aos pais durante a noite, visto que não festejavam o Natal por serem muçulmanos e também porque não lhe era permitido sair à noite. Enquanto isso, Pedro está em casa a escolher a roupa que vai levar ao Bananeiro, vai comer uma banana acompanhada com um copo de moscatel, trata-se de uma tradição antiga da sua família que veio de geração em geração.. No meio da tarde, ele decide ligar à sua amada e pergunta-lhe como lhe estava a correr o dia, a que horas se encontravam e com quem ia até ao centro da cidade nessa noite que prometia ser deslumbrante. Após a última questão, Ara disse a Pedro que não tinha com quem ir e então ia a pé. Pedro estranhou por a família dela não participar em algo que quase toda a gente em Braga tinha o hábito de fazer e por isso perguntou-lhe o porquê. Perante a última questão, Ara ponderou em não responder a verdade por medo de ser rejeitada pelo rapaz, mas, como sempre, optou por contar a razão pelo qual não festejavam o Natal. Após desligarem, Pedro começou a pensar nas consequências que isso lhe poderia trazer, visto que os pais dele eram muito rígidos em relação à religião cristã e assim apercebeu-se que para poder ter algo com a rapariga extraordinária que tinha conhecido, teria de se esconder dos pais.

O adolescente saiu de casa com os seus progenitores, Ana e João, e à chegada ao Bananeiro despede-se deles, diz-lhes que se vai encontrar com os seus amigos e mistura-se na confusão. Enquanto isso, Ara omite aos pais a saída com Pedro, diz-lhes que vai dormir por ter tido um dia cansativo, dirigiu-se para o quarto e depois esgueirou-se pela janela.

Entretanto, como passava da hora combinada e a jovem ainda não tinha chegado, o rapaz estava preocupado e decide ligar-lhe, questionando-a sobre o porquê de esta ainda não ter chegado. Ara desculpa-se pela demora e garante-lhe que está quase a chegar. Dez minutos depois chega e ambos decidem ir passear pelas mágicas ruas de Braga com uma iluminação cheia de magia. Durante o passeio noturno, passaram por vários sítios, pelo Jardim de Santa Bárbara, onde se deram a conhecer melhor um ao outro; depois foram à Fonte do Ídolo onde deram as mãos pela primeira vez e por último, mas não menos importante, ao Chafariz da Avenida Central. Foi lá que começou a aquecer aquela noite fria de inverno.

Após um momento silencioso, Pedro pega nas mãos de Ara e sussurra-lhe ao ouvido que ela foi a mulher mais linda que alguma vez viu, depois olha profundamente para os lindos olhos azuis e, de seguida, aproxima-se gentilmente dela e beija-a.

Nesse momento, Ara ficou surpreendida e extasiada e foi aí que se apercebeu que Pedro era o amor da sua vida e que era a pessoa mais feliz do universo.

Depois de algum tempo a conversarem, a rapariga pediu ao rapaz para a levar de volta ao Bananeiro, mas ele não pensou nas consequências que provavelmente iria ter com isso e decidiu levá-la onde ela lhe pedira.

Chegado ao Bananeiro, os progenitores de Pedro questionaram-no quem era a rapariga que o acompanhava, e ele disse-lhes que era sua namorada. Até aí tudo estava a correr bem, até que os pais do adolescente questionaram Ara sobre os seus os pais. Esta, na sua inocência e ao não saber que os pais dele eram rígidos acerca da religião, disse-lhes que quer a sua família quer ela não festejavam o Natal e, por isso, não se encontravam lá. Eles não associaram que a crença dela fosse diferente da deles, estavam curiosos por saber pormenores e perguntaram-lhe a razão disso. Ela rapidamente respondeu-lhes que era muçulmana. Depois de um momento de choque dos familiares do rapaz, obrigaram-no a regressar imediatamente a casa e não o deixaram despedir-se de Ara, que ficou de rastos e desolada.

Dirigiu-se para casa para não acontecerem coisas ainda piores como ser descoberta em flagrante pelos pais.

No dia seguinte, a jovem não resistiu em contar o sucedido aos seus pais e explicou-lhes o sofrimento que estava a viver naquele momento. Ara não queria acreditar no que tinha acontecido e no que tinha feito.

Os progenitores tentaram reconfortar a sua única e maravilhosa filha, explicando-lhe que tinha de aceitar e superar a situação. Enquanto isso, do outro lado da cidade, Pedro estava igualmente de rastos e sem saber o que fazer para conseguir tê-la de volta, pois não tinha maneira nenhuma de comunicar com Ara, uma vez que os seus pais eliminaram o contacto dela, trocaram o número dele e ele não fazia a menor ideia onde ela pudesse morar para poder ir ter com ela.

A partir daquela noite, não falaram mais nem tiveram algum tipo de contacto. Diante desta situação dramática para Ara, os seus pais, ao presenciarem o sofrimento diário da filha, decidiram apresentar-lhe um rapaz muito bonito, com um coração de ouro, e simpático como Pedro, a única diferença é que era muçulmano. Fizeram isso na esperança que esta ultrapassasse a situação que vivenciou e, ao mesmo tempo, esquecesse Pedro e voltasse a sentir-se bem e comportar-se como antes, o que não aconteceu.

Tanto Pedro como Ara tinham mudado completamente o seu estado de espírito, passando das pessoas mais felizes para as mais deprimidas do mundo.

Passado quase um ano e com a chegada do Natal, Ara relembrou-se do mesmo dia vivido há exatamente um ano atrás e teve a brilhante ideia de, com ajuda de Nadir e Caia, voltar ao Bananeiro na esperança de reencontrar o seu maior amor. Isso fez com que ela ficasse esperançosa e feliz, todavia ao mesmo tempo receosa que Pedro já a tivesse esquecido e conhecido outra pessoa.

À chegada do tão especial dia, a jovem não parava de pensar no que podia acontecer dado que se arriscava a sofrer novamente, porém decidiu tentar ser de novo alegre. Em casa, Pedro estava a ter um dia normal como nos outros anos, visto que depois de muita dor e revolta o jovem resolveu que o melhor era superar e seguir em frente, e assim o fez.

Ao contrário do ano passado, desta vez ia ao Bananeiro com os seus melhores amigos sem imaginar que poderia encontrar a sua antiga amada lá.

A noite estava a correr normalmente, até que Pedro ouve alguém a chamá-lo e decide olhar para todo o lado para ver de quem era aquela doce e meiga voz, e no meio da confusão aparece Ara, com lágrimas nos olhos que representavam a angústia vivida no pior ano da sua vida inteira. O adolescente ao vê-la recordou-se dos momentos que experienciou com ela e voltou a sentir o que sentiu precisamente há um ano atrás. Nesse instante, Pedro deixou os amigos e correu em direção à sua amada e abraçou-a com as maiores forças que tinha e beijou-a calorosamente. Nessa noite de ceia, o céu estava estrelado como nunca antes estivera, e por isso eles voltaram aos lugares já deles conhecidos e partilharam os momentos que viveram durante a época que estiveram sem se ver.

A partir desse dia, continuaram a sair diariamente em segredo, mas um dia decidiram que não conseguiam mais esconder o amor enorme que sentiam um pelo outro e determinaram, por essa razão, organizar um jantar com ambas as famílias na esperança que os pais dele compreendessem e respeitassem a religião dela e também a situação que os dois viviam. Os pais do rapaz ao saberem do suposto jantar quiseram deixar claro desde o início que só iam para fazer vontade ao filho, mas que não iam aceitar nada entre eles.

Durante o jantar um silêncio embaraçoso dominou o momento, então Nadir e Caia aproveitaram a situação para explicarem em que consistia a sua fé e dizer-lhes que a sua religião nada tinha a ver com terrorismo como muita a gente pensava. Após várias explicações, os pais dele mostraram-se surpreendidos pela positiva. Ara e Pedro ao verem a reação otimista dos parentes do jovem e a cumplicidade entre os dois casais ficaram admirados e muito felizes.

A partir daí os pais de Pedro fizeram um esforço para aceitar a relação e depois de conhecerem melhor Ara tornaram-se um dos maiores apoiantes daquele casal.

Passados quatro anos, os dois jovens decidiram casar pelas duas religiões e mais para frente formaram uma deslumbrante família, dando-lhes sempre a melhor educação. Ainda hoje são felizes e assim viveram para sempre.

O sapateiro

Bruna Machado
Inês Faria
Mariana Sá

Luz e Vicente eram netos do senhor José, um humilde sapateiro, que trabalhava numa casa comercial bem situada no ´´ coração ´´ de Braga. As duas crianças eram criadas pelo avô, dado que tinham perdido os pais num grave acidente de carro.

O dia do senhor José começava bem cedo. Acordava todos os dias às seis horas para tratar de arranjos pendentes, saindo depois para comprar o pão. Quando regressava, começava a preparar o pequeno-almoço para os netos, que acordavam às sete horas, tratando depois de abrir a sua loja.

Ele dedicava-se não só a consertar calçado, mas também ao arranjo de bolsas, cintos e outros biscates. O seu pequeno ofício corria-lhe bem, já que tinha grande paciência e paixão. No entanto tinha de sujeitar-se a bastantes sacrifícios para dar o melhor que podia aos netos.

Os dias dos irmãos eram passados na escola e na loja do avô. Eram ambos unidos e trabalhadores e, com os seus sorrisos ingénuos, acabavam por oferecer uma certa vivacidade àquele espaço, deixando todos os clientes rendidos à sua inocência

Vicente havia atingido dezoito anos e Luz tinha dezasseis, quando o seu avô ficou muito doente. Agora, ainda andavam mais atarefados, visto que o senhor José cansava-se facilmente e não podia esforçar-se muito. Os dois irmãos planeavam emigrar, porque estavam cientes de que, apesar de fazerem das tripas coração para cumprirem todos os pedidos, aquele negócio não os ia sustentar mais.

Numa manhã, quando desciam para o pequeno-almoço, ficaram surpresos ao perceber que o sapateiro não se encontrava lá. Então, subiram até ao seu quarto e depararam com o avô deitado na cama, percebendo de imediato que ele os iria deixar. Para maior espanto, antes de dizer o último adeus, este retirou um pote debaixo da cama, onde estava guardada uma grande fortuna. O avô despediu-se, agradeceu-lhes toda a ajuda e entregou-lhes todo o dinheiro amealhado ao longo dos anos.

Após o sucedido, os irmãos já não tencionavam emigrar, tendo decidido não abandonar mas sim continuar com o ofício do avô. Assim, fizeram projetos para a construção de uma fábrica de produção de calçado, incluindo um anexo para arranjos.

Os dois jovens surpreenderam toda a gente ao prosseguirem o negócio do avô, inaugurando uma fábrica de muito sucesso e mantiveram a loja no centro da cidade em homenagem ao avô.




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