Museu dos Biscainhos

"OLHAR BRAGA" - Património local e escrita criativa

Estes trabalhos, integrados nas Jornadas Europeias do Património 2018 - "Partilhar Memórias", em parceria com a Câmara Municipal de Braga, encontram-se editados em Brochuras.

Museu dos Biscainhos

A Filha Rebelde

Carlos Pereira
Fábio Vieira
Luís Santos 
Rui Patrina

Estava uma noite fria e a chuva atacava incansavelmente o Palácio dos Biscainhos. A filha dos condes de Bertiandos, donos do palácio, estava no seu quarto, aborrecida e sem nada com que se distrair. Como muitos jovens da sua idade, questionava-se se algum dia poderia libertar-se da autoridade dos seus pais e ser livre. Mas o seu pensamento foi interrompido quando um aio veio ao seu quarto e disse:

- Menina, seus pais requisitaram a sua presença na sala de jantar.

Mal o aio acabou a sua frase, Matilde de Bertiandos dirigiu-se rapidamente à sala de jantar. Quando entrou, todos olharam para ela e, com um ar muito sério, o pai informou-a, usando um tom de voz muito natural:

- Os meus parabéns, filha, recebeu uma proposta de casamento.

A filha ficou indignada e fazia os possíveis por esconder a sua revolta antes de responder ao pai, quando ele a interrompeu, dizendo:

- Eu sei, eu sei, são muitas perguntas que quer fazer, mas neste momento terá de esperar...O seu noivo pediu-me para não ser revelada a sua identidade senão quando regressar da viagem que está fazer, mas pediu-me para lhe entregar isto ...

E foi aí que ela leu a carta mais bonita que lera em toda a sua vida.

Minha amada donzela,

Sem a querer aborrecer,

Quero defini-la como a mulher mais bela,

Que faz o meu coração estremecer.

Quero muito passear consigo,

Se preferir, até ao amanhecer,

Contemplaremos as constelações

E deixaremos falar nossos corações.

Eternamente, consigo quero viver;

E, para todos os dias sermos felizes,

Só da vossa vontade vai depender,

Os nossos corações, peço que harmonize.

Gustavo

Depois de ler este belo poema, Matilde de Bertiandos ficou muito sensibilizada com as palavras do seu "noivo" e achou que, afinal, ele poderia ser o homem perfeito para casar. Os dias foram passando e a jovem estava cada vez com mais expectativas acerca do seu casamento e do seu pretendente. Certo dia ...

Matilde estava a escovar o seu cavalo preferido nas cavalariças do palácio quando lhe apareceu um jovem do povo a pedir emprego no Palácio, pois os seus pais não tinham rendimentos suficientes para sustentar a família numerosa. Mal ela olhou para o jovem, os seus olhos reluziram, evidenciando o quanto lhe agradara a figura daquele rapaz.

- Acho que meu pai precisa de mais um jardineiro para cuidar deste belo e grande jardim.

Era a resposta que o jovem procurava; respondeu à filha dos condes do palácio, fazendo uma vénia e dizendo-lhe:

- Mil obrigados, nobre senhora.

Dirigiram-se os dois para a sala onde se encontrava o Conde de Bertiandos que olhou fixamente o jovem e perguntou à filha:

- Filha, que sujeito é este?

- Este jovem necessita de um emprego como jardineiro, pois a sua família está a passar por dificuldades financeiras.

-Entendo, filha, fizestes bem em trazer esse rapaz, começa a trabalhar cá a partir de amanhã...

No entanto, o conde não pareceu gostar da cara do pobre rapaz...Dia após dia, a jovem parecia cada vez mais próxima do jardineiro.

Os dias foram-se passando e chegou o esperado dia em que o pretendente de Matilde iria jantar ao palácio e, finalmente, iriam conhecer-se. Estavam todos ansiosos e vestidos a rigor para o evento especial. Matilde de Bertiandos estava a usar o seu vestido feito com os tecidos mais caros da época e desenhado pelos melhores estilistas de todo o país. Era um vestido de um branco resplandecente, parecendo brilhar como um diamante, enquanto a jovem se passeava pelo jardim que exibia imensos tons de verde, flores odoríferas e tinha sido decorado para a ocasião de forma festiva. Eram já oito horas da noite e estavam todos à espera do misterioso pretendente da filha do conde.
Mal o pretendente entrou na sala, a jovem olhou para ele de uma forma um tanto ou quanto sedutora. Gustavo apareceu elegantíssimo, com roupa formal, como seria de esperar. O Conde ficou agradado e pareceu-lhe que o rapaz era simpático e pacífico.
- Boa noite - disse Gustavo, aparentando estar um pouco nervoso. Todos lhe responderam à saudação e o Conde pediu-lhe que ocupasse o lugar junto da sua filha. Num passo muito solene e elegante, o jovem dirigiu-se para perto de Matilde e, com voz ligeiramente nervosa, perguntou-lhe:

-"Gostou da carta que lhe enviei?"
-De facto, agradou-me bastante, achei-a muito interessante - afirmou Matilde, esboçando um sorriso dócil.
O jovem pretendente aproximou-se dela e começou a dizer:
- Estive muito tempo à espera deste dia, até que enfim que se concretiza!
- Eu também! Eu acho que o Gustavo é um rapaz muito simpático e sinto-me bastante lisonjeada com a sua carta - acrescentou Matilde, sorrindo levemente.
- Não é uma questão de ser simpático, mas sim realista! - afirmou ele, com firmeza, procurando dar um toque de especial sinceridade à expressão.
Matilde ainda tentou retorquir mas não conseguiu devido ao nervosismo; limitou-se a sorrir, olhando-o carinhosamente.

Estava tudo a correr tal como o esperado e Gustavo estava a ganhar cada vez mais a simpatia da sua futura mulher. A certa altura, apareceu o jovem jardineiro que fez questão de perguntar apenas a Matilde:

-Está tudo a correr bem, minha senhora? O jantar está ao vosso agrado?

-Sim, está tudo a correr bem - respondeu Matilde, embaraçada com aquela atitude do jardineiro. Gustavo, estranhando aquela intimidade entre os dois, perguntou à sua futura mulher:

- Quem é este homem?

- É um dos nossos jardineiros e também é um grande amigo meu.

Gustavo não gostou do que vira nem da resposta de Matilde e não foi o único; o Conde de Bertiandos estava cada vez mais convencido de que a sua filha tinha um caso com o jardineiro. Durante o jantar, ficou decidido que o casamento seria daí a um mês e a família de Bertiandos iria preparar uma grande festa. Gustavo só voltaria na véspera do casamento pois tinha negócios de família a tratar.

Durante esse mês, sem que a família se apercebesse, a relação entre a filha dos condes e o jardineiro ficou cada vez mais íntima.

Certo dia, Matilde estava escondida nas cavalariças a conversar com o jardineiro e o pai descobriu-os. O Conde ficou chocadíssimo com o sucedido e decidiu adiar o casamento até que a situação acalmasse e se esclarecesse.

Mas, como a filha dos Condes de Bertiandos morria de amor pelo jardineiro, decidiram fugir para Espanha numa carroça que tiraram das cavalariças. O conde, quando soube do sucedido, ainda tentou perseguir a filha só que esta já tinha passado a fronteira.

O Amor Proibido de Constança

Ana Cardoso
Fátima Gonçalves 
Joana Ramos

Quero contar-vos a história da minha vida. Chamo-me Constança e, na altura dos factos, tinha cerca de 20 anos e vivia com os meus pais, os condes Afonso e Beatriz de Bertiandos, num palácio conhecido em Braga, o palácio era enorme, talvez o maior palácio de Braga, com grande número de divisões: átrio, escadaria azulejada, sala de entrada, salão nobre, capela, salão de música e de jogos, sala de jantar, claustro, cozinha, cavalariças, entre outras, sendo rematado por um grande jardim externo.

Numa tarde de Primavera, dia 21 de abril, estava a preparar-me para um jantar que iria ser muito importante para o meu futuro, mas mais para a frente saberão do que se tratará...

- Dilda! Podes chegar aqui por favor?

Dilda era a minha dama de companhia, ela ajudava-me em tudo, a vestir, a pentear, fazia até o papel de conselheira, era uma segunda mãe para mim.

-Sim, querida, de que precisas?

-Ajudas-me a escolher o vestido ideal para logo?

Enquanto escolhíamos o vestido, idealizávamos como seria o duque.

Duque?! Perguntam vocês; sim ia jantar com o escolhido pelos meus pais para se casar comigo e não conseguia parar de imaginar como ele seria.

-Como achas que ele será, Dilda? Imagino um rapaz, lindo, educado, gentil ... achas que ele terá olhos azuis? Castanhos? Será loiro, ou um moreno charmoso?

-E se ele for totalmente o contrário do que estás a imaginar? Feio, arrogante, sem classe e desinteressante...

Escolhida a roupa, segui para o Salão de Música e de Jogos para a minha aula de piano. Depois da aula fui ler um livro para o jardim. O jardim do palácio era o meu espaço favorito: flores variadas e coloridas em todas as épocas do ano, algumas árvores exóticas, e até uma casa na árvore que eu frequentava para dedicar à leitura. Todas as manhãs, passeava no jardim para respirar o ar puro cheio de aromas que a natureza envolvente me oferecia. Ali, sentia um grande conforto interior.

Nesse dia, a leitura foi interrompida por Zacarias que se dirigia às cavalariças com os nossos cavalos (o meu pai gostava muito de cavalos).

-Menina já viu as horas? Já deveria estar nos seus aposentos.

Percebi que já estava a anoitecer e apressei-me. Dilda já deveria estar à minha espera.

-Despacha-te, Constança, já estás atrasada!

Apressadamente coloquei o vestido e os sapatos enquanto Dilda me fazia um lindo penteado.

Ouvi a carruagem a chegar e desci, para receber o duque juntamente com os meus pais.

A minha mãe, a condessa Beatriz, era uma mulher linda, com um forte cabelo ruivo ondulado e olhos verdes; o meu pai, elegante também, tinha um olhar intenso, cor mel, e um cabelo liso escuro. Mal abriram o portão, senti um nervosinho, pois estava curiosíssima para ver como seria o duque.

Entrou, apresentou-se e fixou o seu olhar em mim. Fisicamente era alto, tinha os olhos verdes como esmeraldas e o cabelo era castanho claro; chamava-se Filipe e eu adorava aquele nome.

Já na sala de lazer, como um cavalheiro devia ser, gentilmente, ofereceu-me a cadeira para eu me sentar. Agradeci-lhe, com um leve gesto de cabeça.

Seguidamente, o duque sentou-se também com uma postura formal. Estivemos a falar, mas ... a sua conversa não me despertou interesse. Comecei a perceber que tínhamos personalidades distintas, ele só falava de si mesmo e adorava engrandecer os seus bens e o império do pai.

-Ao longo do tempo, o meu pai foi construindo uma vasta fortuna devido aos negócios que estabeleceu na Índia e nos novos mundos.

-Já vi que a minha filha e os meus futuros netos estão bem entregues ... - sussurrou o meu pai ao ouvido da minha mãe.

Depois de um curto diálogo, pedimos licença para nos levantarmos, eu e Filipe. Fomos passear para o jardim. Como acompanhava muitas vezes o seu pai de negócios, Filipe tinha aprendido a gostar de ritmos musicais diferentes, mais modernos. Sabendo que uma banda que apreciava ia tocar nessa noite, no café Vianna, convidou-me a acompanhá-lo. Os meus pais ficaram algo constrangidos, mas, depois do jantar, chamaram Zacarias para nos levar.

Era a primeira vez que entrava naquele café pois raramente saía de casa. Era amplo, repleto de espelhos de talha dourada nas paredes que os sofás vermelhos e os reposteiros punham em destaque; era um espaço agradável frequentado por muitos jovens. Também havia uma sala de jogos na parte de trás. Sentamo-nos, fomos bem recebidos e fizemos o pedido...

Para não variar, Filipe continuava a gabar-se ... então, farta da sua conversa, disse-lhe que ia apanhar ar. No momento em que abri a porta, um dos músicos esbarrou comigo e houve uma troca de olhares difícil de descrever e uma química inexplicável ...

Quando voltei para dentro, a sala estava na penumbra e os músicos tocavam algo romântico pelo que percebi. Já era tarde e decidimos voltar; Filipe deixou-me no palácio e despedimo-nos.

Mal me deitei, não parei de pensar no músico. Dilda apareceu para saber como tinha corrido a noite.

- Então, menina, como correu o encontro?

-Podia ter corrido melhor... Filipe não é, com toda a certeza, a pessoa com quem quero passar a minha vida!

-Mas ... essa cara ..., vejo que estás muito contente! Afinal, o que se passou?

-Ah... não te escapa nada, não é?

-Conta-me lá o motivo dessa felicidade.

Resumidamente, contei-lhe o que se passara:

-Senti algo inexplicável quando me esbarrei com um dos músicos: era lindo, de cor negra, um olhar simpático, possuía um sorriso franco, cativante que me deixou sem palavras!

-Ai, ai! Os teus pais não vão gostar da decisão, menina Constança ...Mas, agora dorme que amanhã vão ser um dia longo. Boa noite!

-Boa noite, Dilda.

No dia seguinte, levantei-me, vesti-me, prendi os meus longos cabelos louros e dirigi-me à sala para tomar o pequeno-almoço. Entretanto chegaram os meus pais e conversei com eles acerca da desilusão que o duque tinha sido para mim e que não sentira qualquer afinidade por ele. O meu pai não aceitou muito bem, porém a minha mãe compreendeu perfeitamente. Nesse dia à noite, não resisti à tentação e, sem os meus pais saberem, fui ao Café Vianna para o ver. No fim do concerto, trocamos olhares e ele decidiu sentar-se a meu lado para conversarmos.

- Olá, por aqui de novo? Desde já, peço desculpa do nosso pequeno "encontrão"...

Rimos, descontraidamente.

- Gostei bastante das vossas músicas e decidi voltar.

-Já agora, como se chama?

- Constança ... e o "senhor distraído"?

-Ah! Ah! - Gargalhou - Chamo-me Inácio. Não veio com o seu namorado?

- Qual namorado?!

- Aquele que estava consigo ontem à noite.

-Ah! Sei a quem se refere, mas ele não é meu namorado... para lhe contar a verdade, estávamos a ter um encontro, que foi decidido pelos meus pais.

- Mas, então não pretende ficar com ele?

Expliquei-lhe o porquê de não o querer para noivo. Falamos durante algum tempo e, como já estava a ficar tarde, decidi regressar e Inácio ofereceu-se para me acompanhar até casa.

Quando chegámos, despedimo-nos e entrei. Voltei-me para trás quando ouvi Inácio chamar-me.

-Amanhã, podemos encontrar-nos na Fonte do Ídolo?

-Claro que sim ... então, até amanhã!

-Boa noite!

Agradeci, sorri-lhe e voltei para o palácio. Subi as escadas e dirigi-me ao quarto para dormir; tinha sido uma noite cheia de emoções. Na manhã seguinte, fiz a minha rotina habitual, mas, de tarde, decidi praticar mais tempo de piano, sentia-me inspirada para a música! Passado algum tempo, jantei, e porque não podia estar sempre a sair (era uma jovem condessa e tinha que ter um comportamento como tal), pedi a Dilda ajuda para "fugir", sem que os meus pais notassem. Mais uma vez, fui ter com ele.

Inácio já se encontrava na Fonte do Ídolo. A lua iluminava o recinto; conversamos algum tempo e, inesperadamente, ele foi buscar a viola que estava por detrás da fonte e fez-me uma serenata. Foi um momento encantador: Inácio, a serenata, o silêncio daquele monumento milenar em pedra ... Mas eu tinha que regressar. Decidimos ir para o meu jardim, entramos pelas traseiras e ficamos lá mais um pouco, até que me apercebi que Zacarias estava a colocar os cavalos nas cavalariças e podia apanhar-nos ali. Então, Inácio disse que era melhor retirar-se e ... de repente, só me lembro de sentir aqueles lindos lábios. Beijamo-nos e, a partir daquele beijo, percebi que era ele que eu queria para o meu futuro. Fui-me deitar e não parei de pensar nos acontecimentos daquela noite; cada vez tinha mais vontade de estar com ele.

A partir desse dia, continuamos a encontrar-nos e, numa noite de verão, ele convidou-me para ir assistir a mais um concerto que ia fazer no Café Vianna. Dedicou-me uma música juntamente com a sua banda e a mascote (a mascote era um boneco que o Café Vianna adotou e com a qual procurava homenagear a banda: era de cor negra e vestia igual aos membros da banda de Inácio). No final, a banda parou e Inácio pediu-me que chegasse mais perto e ajoelhou-se para pedir a minha mão. Confusa, saí a correr; Inácio veio atrás de mim, pegou-me no braço, abraçou-me e nesse momento, não contive as minhas lágrimas.

-Desculpa, os meus pais não vão aceitar esta relação. Não devíamos ter continuado com estes encontros ....

-Constança, eu amo-te! Independentemente de os teus pais não aceitarem a nossa relação, nós temos de tentar.

- Tens razão. Quando estiver preparada, falo com os meus pais, até lá mantemos a relação em segredo...

Inácio concordou e estivemos dois meses assim.

No dia 15 de setembro, no meu aniversário, Inácio fez-me uma visita, à noite, no jardim do palácio. Zacarias espiou-me e contou o que tinha visto aos meus pais, mas eu só o soube no dia a seguir. Na manhã seguinte, os meus pais disseram que queriam falar comigo. Ambos estavam com sérias e fortes expressões, o que me fez perceber logo do que se tratava. Nesse momento, parecia que o meu mundo tinha desabado. Tive uma forte discussão com eles, o meu pai estava totalmente em desacordo com a nossa relação.

- O que achas que vão pensar de nós ao ver a filha do conde de Bertiandos com alguém que nem pertence sequer à burguesia? Para além do mais, é negro! Onde já se viu tal disparate?

- Pai, o senhor está a ser injusto! Só quer saber do que pensam acerca de si e não quer saber da felicidade da sua única filha! Acha isso correto? Quer ver-me casada com alguém que me deixe infeliz? Parece que sim...

Saí dali a correr e fui chorar para o meu quarto. Ao jantar, já estávamos mais calmos e pedi-lhe uma oportunidade para conhecer Zacarias. Podia ser que mudasse a sua opinião acerca dele e que se apercebesse do quanto ele me fazia feliz. O meu pai nem me respondeu, estava muito zangado comigo.

Andei uma semana completamente desolada, sem chão, não falava com ninguém, nem mesmo com Dilda. Já não passeava de manhã no jardim para respirar o ar puro da natureza e quando olhava pela janela ainda me lembrava do local onde estivera com Inácio. Não parava de pensar nele, os nossos momentos não me saíam do pensamento, estava cheia de saudades, mas o que me entristecia mais era o facto de o meu pai não querer saber da minha felicidade e estar apenas preocupado com o que os outros iriam pensar. Evidentemente, o meu pai reparou que eu andava bastante triste e, um dia, apareceu no meu quarto para conversarmos.

- Bom dia, filha, podemos conversar?

- Se for por um bom motivo, sim... - disse eu, desinteressada.

- Reparei que tens andado muito em baixo e penso que possa ser pela ausência de Inácio... Estive a pensar bastante e vou dar-te a oportunidade de trazeres Inácio cá a casa para o conhecer.

- Muito obrigado, pai, vai adorá-lo. Tenho a certeza!

Parece que o meu sorriso contagiou até o ambiente ao meu redor, um sol nasceu no meu quarto, desci as escadas e pedi a Zacarias que me levasse à cidade para contactar com Inácio e convidei-o para jantar em casa com os meus pais. Ele ficou muito contente.

Nessa noite, fui eu própria abrir o portão a Inácio. Ele estava lindo, com um fato azul escuro, camisa e borboleta branca a sobressair. Abracei-o de imediato. Seguimos para a sala de jantar, apresentei-o aos meus pais e sentamo-nos todos. A conversa estava a fluir muito bem sobre viagens, política, música ... o meu pai estava a adorá-lo (tal como eu tinha previsto), até já estavam às gargalhadas! Os meus pais gostaram bastante dele e perceberam que era um bom partido para mim.

Passado cerca de um ano casámos e os meus pais não podiam estar mais felizes ao ver-me feliz também. Hoje temos dois filhos lindos, a Leonor e o Dinis, ambos bastante parecidos com os avós paternos e maternos e são uns meninos muito adoráveis. Se não tivéssemos ultrapassado os preconceitos e as dificuldades, não teríamos chegado à verdadeira felicidade.

Ah! Já me esquecia de vos dizer que, todos os anos, festejamos o aniversário do nosso abençoado "encontrão" no acolhedor Café Vianna, sob o olhar cúmplice da mascote ...


Miles

Cláudia Pereira
Guilherme Barbosa 
Joana Araújo 

Era noite de lua cheia. Estávamos, como combinado, à entrada do Palácio Dos Biscainhos que pertencia aos condes de Bertiandos, uma família aristocrata, célebre na cidade pela sua riqueza. Faltava um quarto para as dez e esperávamos a chegada dos guardas-noturnos. Assim que chegaram, tratamos logo de dar início ao nosso plano.

Logo que entrámos no Palácio, ficamos deleitados com tanta beleza, desde os tetos luxuosos às paredes decoradas com imponentes painéis de azulejos. Subimos a escadaria até ao segundo andar e seguimos o corredor estreito e sombrio que nos levava à capela. Estávamos a poucos momentos de concretizarmos o nosso objetivo.

Estava ali mesmo, à nossa frente: o móvel Oratório! Era decorado a talha dourada, tendo no seu interior a Custódia, tal e qual como a tínhamos idealizado.

Com celeridade, pegamos na Custódia e corremos em direcção às escadas exteriores que nos levavam aos jardins, um vasto espaço, de aproximadamente um hectare, enriquecido com diversas fontes e esculturas barrocas. O espaço era tão deslumbrante que não era de admirar que, no reinado de Luís I de Portugal, tenha merecido a honra de ser visitado pela família real. Avançamos a vedação e corremos em direcção aos nossos cavalos.

Mais um assalto bem sucedido! Arrisco-me a dizer que foi dos nossos melhores ataques. Certamente, o país não se esquecerá de nós, o Grupo Miles.

Um século passou e hoje sou eu a tomar as rédeas do Grupo Miles, criado pelo meu bisavô. Confesso que o bem da herança que mais me desperta atenção é a Custódia dos condes de Bertiandos, roubada ao Palácio dos Biscainhos num assalto primoroso. Na tarde chuvosa de quinta- feira, tínhamos marcada uma reunião do Grupo Miles na nossa sede, o Café Vianna, um café na Arcada, muito requintado e frequentado pela alta burguesia bracarense. O café, que até já foi uma espécie de banco, funciona como clube social e salão de jogos e há noite como bar. A seguir à 1ª Guerra Mundial, não havia trocos em Braga e o café Vianna dava senhas que as pessoas trocavam por artigos, por exemplo, na mercearia. O seu interior é ainda mais fascinante que a sua história, desde as enormes portas de ferro espelhadas que dão entrada ao café, aos amplos espelhos rebocados a dourado que cobrem as paredes. O chão forrado a azulejos com insígnias, as mesas de design clássico e as inúmeras poltronas encarnadas, tudo oferece um maior conforto aos clientes. À hora combinada, todos os elementos foram chegando. Misturados com os restantes clientes, ninguém suspeitaria que éramos o Grupo Miles, um grupo perigoso e "famoso" pelos seus assaltos, que fazia do café Vianna a sua sede.

Sem levantar suspeitas, sentamo-nos numa mesa ao fundo da sala, fizemos sinal à D.Carla, a empregada mais simpática da "casa "; com a cortesia usual, de imediato se dirigiu até nós e anotou o nosso pedido, como já era habitual.

Finalmente saciados, demos início à reunião.

- Entrou em contacto comigo um contrabandista especializado em antiguidades e fez-nos uma proposta tentadora para a compra da Custódia.- Informou Verónica aos restantes membros.

Apesar de algumas caras de espanto e indignação inicial, todos acabaram por concordar com a proposta feita pelo contrabandista a Verónica.

A Custódia acabaria por ser leiloada na fronteira espanhola, no mercado negro.

Nesse leilão, só pessoas do alto estatuto social estariam presentes. Entre elas, António Augusto Nogueira da Silva, descendente de uma família da burguesia bracarense, ligada ao comércio e à área financeira. Nogueira da Silva era um grande apreciador de arte, fortemente ligado ao estado salazarista.

No dia do leilão, Nogueira da Silva ficou imensamente interessado na Custódia. Logo que teve oportunidade, ofereceu uma exorbitante quantia de dinheiro. A sorte acabou por estar do seu lado e conseguiu ficar com ela.

Nogueira da Silva era casado com Maria Eugénia há 20 anos a quem oferecia muitas das peças de arte que comprava. Unia-os um amor puro, sincero e harmonioso e poucos são aqueles que vivem um amor assim.

A notícia que Nogueira da Silva tinha adquirido uma nova peça de arte religiosa correu a cidade bracarense e a sua periferia. Quando o Grupo Miles percebeu que a "sua" Custódia tinha sido comprada por aquele ilustre bracarense, todos tiveram o mesmo pensamento: Nogueira da Silva era o alvo certo para o Grupo Miles pois era possuidor de uma grande fortuna e de uma mansão com objetos valiosos importados de todo o mundo, avaliados numa enorme fortuna. No mínimo, conseguiriam "reaver" a Custódia ...

Nogueira da Silva iria ausentar-se da cidade por uns dias, em virtude de uma reunião com o executivo português na Capital; era a altura perfeita para o Grupo Miles atacar. Com Nogueira da Silva ausente, a casa seria fácil de assaltar visto que, quando ele se ausentava, levava consigo todos os seus empregados e seguranças pessoais. Logo, a casa ficaria desabitada. Tudo favorecia o Grupo Miles, até que surgiu uma notícia avassaladora que poderia alterar os planos: Maria Eugénia não iria acompanhar o marido nesta visita à Capital.Com Maria Eugénia em casa, o Grupo não poderia atacar.

Depois de se reunirem e pensarem no assunto, chegaram a consenso. Maria Eugénia era uma "pedra" demasiado grande no caminho do Grupo Miles e teria que ser retirada para que o plano decorresse conforme pretendiam. Não foram precisos muitos dias para que da teoria se passasse à prática. Maria Eugénia teria de ser eliminada de forma misteriosa - um envenenamento seria perfeito. Para isso, Verónica encarregou-se de ir comprar umas saquetas de chá à mercearia Meira e Silva, do Sr. Manuel, no Campo da Vinha. Lá podiam-se comprar chás importados de todo o mundo, principalmente do Oriente e de que Maria Eugénia era apreciadora.

Adulterando a composição do chá, adicionando gotas de um veneno fatal, Maria Eugénia teria morte imediata logo que o ingerisse. Verónica e o restante grupo com os seus truques e manhas conseguiram entrar na cozinha de Nogueira da Silva e substituíram o chá habitual, que seria servido a Maria Eugénia, pelo chá adulterado com veneno. O chá foi servido a Maria Eugénia e foram precisos apenas dez minutos para que ela sucumbisse. O caos instalou-se na casa de Nogueira da Silva.

Dias depois da morte da sua amada e depois de lhe ter prestado o seu luto, Nogueira da Silva partiu para a capital, como estava previsto.

Era nessa noite que o Grupo Miles iria atacar. Marcaram encontro, junto à entrada da mansão de Nogueira da Silva. Faltava um quarto para a meia noite. Estava tudo a postos para dar início a mais um assalto que tinha tudo para ser genial.

Com Maria Eugénia eliminada, a casa estava vazia, só se ouvia o som do vento a soprar nas árvores e arbustos que decoravam o majestoso jardim.Com aceleradas passadas, o grupo entrou na mansão, com Verónica a indicar o caminho aos restantes.

Quando estavam quase a concluir o assalto e se dirigiam à última divisão da casa, uma sala perto da biblioteca com um móvel de castanho envernizado da época de Luís XIV. Qual não foi o espanto do grupo quando viram um objeto em cima do venusto móvel: era a majestosa Custódia e, por alguns segundos, todos a admiraram até que um súbito barulho os sobressaltou...

Era Nogueira da Silva acompanhado por militares armados e pela PIDE (policia militar de defesa do estado). Como nos teriam descoberto?

Rendemo-nos de imediato, não tínhamos escapatória possível. Depois de anos de experiência a planear e a efetuar extraordinários assaltos, fomos apanhados!

Será o fim do Grupo Miles? Não! a nossa história não acaba aqui, ainda temos muitos golpes para dar e ataques para planear.

Estejam atentos!

A página rasgada

Ana Maria Sá
 Gabriela Gomes 
João Sousa


Num dia primaveril, uma senhora e a sua filha entram na livraria "Centésima Página", também conhecida como "Casa Rolão", na Avenida Central, em Braga. É um belo edifício da primeira metade do século XVIII que a família Rolão, que se dedicava ao fabrico de sedas, encomendou ao arquiteto André Soares. Na fachada imponente, destacam-se quatro portas no piso térreo e quatro janelas de sacada no piso superior, com cantarias lavradas, em estilo rococó. A mãe e a filha entram de mão dada mas, quando a criança se apercebe que se encontra num local repleto de livros divididos em secções ao qual chamam livraria, a sua expressão facial muda drasticamente, perdendo a expressão de felicidade por passear com a mãe para manifestar aborrecimento e desilusão com o que via.

A mãe, interessada num livro que já tinha captado a sua atenção, diz à filha que se dirija à secção infantil para ver se gostaria de algum livro. Pelo caminho, a menina repara num livro com uma capa e lombada dourada que lhe suscita curiosidade; retirou-o da prateleira e começou a ler. O livro contava um romance, no século XVIII, entre dois jovens bracarenses: Maria Leonor e Tomás de Sousa.

"Em pleno verão de 1761, Maria Leonor, de família nobre, passeia com a mãe pela cidade de Braga e, de repente, cruza-se com um rapaz de pele morena, olhos profundos, castanho escuros e bem vestido. A troca de olhares revelou, de imediato, empatia e carinho, ao ponto de sorrirem um para o outro.

Leonor, uma rapariga loira com cabelo fortemente ondeado, olhos verdes, tom de pele dourado, aparência delicada e suave, era de uma família de destaque e de grande importância na sociedade. A sua família, conhecida pelo apelido "Bertiandos", tinha construído uma nova casa no século XVII que vinha sendo modificada ao longo do tempo. Era uma casa apalaçada com inúmeras e luxuosas divisões e com um jardim tão vasto que os olhos humanos não o alcançam por completo. Os pais de Leonor decidiram "inaugurar" as mais recentes modificações, convidando as famílias mais prestigiadas da cidade de Braga para um baile. A família preparou e enviou os convites.

Chegado o dia da inauguração, Leonor estava expectante com a possibilidade de, porventura, poder voltar a ver aquele rapaz que lhe despertara interesse e que, de certa forma, a atraíra. Pela sua aparência, devia pertencer a alguma família abastada de Braga e talvez estivesse na lista de convidados.

Durante a receção, os dois jovens chocam um com o outro. Tomás, com receio de a perder de novo, não desperdiça a oportunidade para a conhecer. Tentam arranjar assunto para conversarem, mas acabam por se atrapalhar num misto de vergonha e extrema timidez. Discretamente, como se tivessem combinado, ambos se dirigiram para um recanto do jardim, rodeado de camélias e com uma pequena fonte ao centro, para poderem estar mais à vontade. Mas, mal tinham começado a conversa, ouviram um barulho como se fosse um trovão..."

Em pleno século XXI

Sentada no chão da 100ª Página, a menina não estava muito contente com o rumo da história pois não passava de mais um clichê, cujo final era previsível. Com aborrecimento, e devido à sua reduzida idade, sem pensar e num impulso, arranca a página que dava continuidade à história e, ouvindo passos, guarda rapidamente o livro ficando com a página na mão. Nesse preciso momento, a mãe apareceu junto dela e disse-lhe que iam embora; num sobressalto, a menina agarra no primeiro livro que encontra e coloca lá dentro a página rasgada. De seguida, foi-se embora com a mãe sem se preocupar muito com o que acabara de fazer.

Entretanto com Tomás e Leonor...

De repente tudo muda. Na casa dos "Bertiandos", que viria a ficar conhecida como "Palácio dos Biscainhos", o jardim magnífico em que se encontravam Leonor e Tomás já não existia; o imenso calor de verão que se fazia sentir, era agora um dia fresco de primavera. As alterações do espaço eram evidentes: agora estavam num jardim mas completamente diferente, junto de uma espécie de pequena fonte. Apercebendo-se que algo se tinha passado, os dois jovens olham um para o outro como se tentassem encontrar a resposta ou explicação para o sucedido; estavam apreensivos, no entanto felizes por se encontrarem juntos.

- Mas ...o...o que aconteceu? - Perguntou Tomás.

- Onde estamos? - Questionou Leonor.

Como vamos sair daqui? - Disseram, em simultâneo, Tomás e Leonor.

Incrédulos, olharam em seu redor, e, numa tentativa de perceber onde estavam, iam descrevendo o que viam para ver se algum deles reconhecia o local.

- Atrás de nós está um jardim com uma diversidade plantas diferente do grande jardim dos Biscaínhos. A parte da frente da casa é bonita, revestida com típicos azulejos portugueses e uma varanda com características parecidas com as nossas casas. Para além disso, o jardim tem uma esplanada agradável, fresca, convidativa à leitura ou a convívios.

Decidiram entrar na casa cautelosamente, ao encontro do desconhecido. Ficaram perplexos com a quantidade e diversidade de livros que se encontravam nas prateleiras. O entusiasmo era tal, que decidiram folhear atentamente alguns livros. Como eram diferentes dos livros a que estavam habituados! - a textura da folha, o relevo, o tipo de letra... A funcionária, apercebendo-se de movimento (tendo em conta que não os viu entrar) e estranhando o jovem casal devido aos seus trajes e penteados insólitos, dirige-se aos dois dizendo:

- Precisam de alguma coisa? - perguntou com um tom um pouco rude.

Tomás, apercebendo-se do receio da companheira, segura firmemente a sua mão num gesto de proteção e encorajamento.

Retraídos, perguntaram:

- Onde estamos?

- Na "Centésima Página" ou "Casa Rolão", em Braga, ... - disse a funcionária, atenta às reações de ambos.

Leonor e Tomás olham um para o outro aliviados por estarem na mesma cidade, tendo em conta que poderiam estar num sítio mais longínquo. Hesitantes, perguntam:

- Pode dizer-nos a data de hoje? Em que ano estamos?

Com um tom desconfiado, e de certa forma admirada, a funcionária respondeu:

- 11 de maio de 2018.

Eles não esperavam ouvir aquela data, mas sim trezentos anos antes. Instala-se um silêncio hesitante entre os dois.

Entretanto, na rua, ao fazer o percurso até casa, a mãe da criança ia a refletir no livro que hesitou em comprar. Arrependida por não o ter feito, volta para trás com a filha para o adquirir.

De regresso à 100ª Página, a menina repara na figura e nas características "invulgares" de Leonor e Tomás. Não os reconhecendo de imediato, estranha o vestuário e associa, com alguma dúvida, as suas semelhanças às personagens do livro que anteriormente estivera a ler. Para ter a certeza das suas suspeitas, vai buscar o livro e volta a ler a passagem onde se descreve a aparência dos personagens. Extremamente chocada com a situação, vai falar com o jovem casal.

- Como se chamam? De onde vêm?

- Eu sou o Tomás, esta é a Leonor e vimos da Casa dos Biscainhos.

- Ah, vocês pertencem à minha história!

As duas personagens do romance, muito confusas e surpreendidas, perguntam:

- Qual história?! Mostra-nos!

A rapariga corre imediatamente para a estante e conta o que se passou, mostrando também a página rasgada. Eles perguntam o porquê de a ter rasgado e ela explica resumidamente:

- Pensava que era mais um romance "cor-de-rosa" característico e que, como todos os outros, iria acabar com a frase "E viveram felizes para sempre...". Sendo assim, não valeria a pena estar a lê-lo!...

Surpreendidos com o que acabaram de ouvir, Tomás e Leonor decidem reconstruir a história, tendo ainda uma leve esperança de que tudo pudesse voltar ao normal. Como era vontade de todos recolocar a história no seu devido lugar, principalmente para resolver, ou pelo menos minimizar, os estragos que aquele rasgar de página tinha provocado, procuram os três com afinco a misteriosa página.

Para ganhar mais tempo, a criança, propõe à mãe que lanche na cafetaria da 100ª Página ou então no jardim das traseiras; a mãe optou pela cafetaria e aproveitou para iniciar a leitura do livro.

A menina retoma a busca pela página, e depois de uma longa procura, quando a esperança já era escassa e quando já tinham sido vistos todos os livros da livraria, com a exceção de um, "O romance na Casa dos Biscaínhos", a menina desesperada, vai, numa última tentativa ver se a folha lá está. Quando vê que a página se encontra no livro, dá um grito de alegria. Tomás e Leonor correm para junto dela. Afinal de contas, a criança, devido ao susto e ao medo que a mãe lhe tinha provocado, acabou inadvertidamente por deixar a página no mesmo livro donde tinha sido rasgada. Juntos, os três tentam colar a página. Foi necessária muita precisão, minúcia e fita-cola para a colocar no seu devido lugar, de onde, aliás, nunca deveria ter saído.

Terminada a colagem, Tomás e Leonor, desolados e com permanentes incógnitas sobre a maneira como iriam sobreviver num mundo novo, vão andando pelo jardim para refletir e sentam-se junto à fonte. Maria Leonor, finalmente, ganha coragem e, apesar de muito hesitar, fixando os seus olhos verdes nos olhos castanhos de Tomás de Sousa, consegue confessar-lhe os seus sentimentos por ele. Mostrando o que lhe ia na alma, o rapaz acaricia de forma suave e deleitosa o rosto dela e num impulso, realiza o tão esperado desejo de a beijar. Repentinamente, uma súbita força, como se de um tornado se tratasse, sugou as duas personagens de volta para a história, regressando ao jardim da Casa dos Biscainhos, onde fora interrompido aquele que seria o início da história de amor de ambos. O amor e a união entre eles eram tão fortes que nem deram conta que voltaram ao jardim onde tudo começou.

A menina, essa, ficou com tanta curiosidade para saber o final da história que acabou por terminar a leitura do livro, ali mesmo, sentada no chão da 100ª Página. Os dois jovens ganharam mais proximidade devido à aventura que viveram, tornando assim a sua história de amor num conto tradicional que, tal como a menina previra, também acaba com a frase: "E viveram felizes para sempre!".

UM AMOR PROIBIDO, PENSAVA EU

Maria Inês
Mariana Ferrete 
Teresa Veiga 

Após 300 primaveras, sou hoje parte da madeira comum destinada a acender as vossas lareiras ao longo do inverno. E antes que caia no esquecimento das gerações antigas e nem venha sequer a ser conhecido pelos novos vou contar-vos uma das histórias que presenciei ao longo da minha vida.

Surgi do nada, sem saber como nem porquê, provavelmente por obra do vento cheguei até aqui, a um lugar lindo conhecido, antigamente, por Palácio dos Biscainhos. Posso dizer que, desde que me conheço, sempre fui um menino muito sociável e acariciado por toda a gente, tanto pelos humanos como pelos seres idênticos a mim, as outras árvores e plantas deste jardim maravilhoso: japoneiras, magnólias, castanheiros, buchos... Enquanto criança, fui tratado da melhor maneira possível, tive todos os cuidados que todos ainda na sua fase dependente precisam de ter. Acho que todos ficaram rendidos à beleza das minhas folhas e às minhas flores em forma de tulipa. Por isso, sou apelidado de Tulipeiro da Virgínia. Foi fácil habituar-me à ideia de que a minha vida seria aqui, não podia pedir um lar melhor e, acreditem, apesar da minha felicidade constante, questionei-me muitas vezes sobre o porquê de ter vindo aqui parar. Afinal de contas, nada tinha feito para isto.

Ao longo destes anos, presenciei momentos inesquecíveis como o nascimento dos filhos do Conde Meneses, Maria Angélica e João Maria, fruto do casamento com Teresa Teles e Meneses. Foram eles quem mais brincou na minha fresca sombra sem nunca me deixar cair na solidão. Não apenas eles, mas também a pequena Alice, cuja progenitora era empregada de cozinha no Palácio. Alice era uma menina de cabelos loiros, longos, com caracóis perfeitos e tinha olhos tão azuis como o céu limpo numa manhã de verão. Era uma menina muito especial não só pela sua beleza física, mas também pela sua beleza interior pois, acima de tudo, era humilde, trabalhadora e delicada. Infelizmente, teve de crescer cedo para poder ajudar a sua mãe que, por tristes razões, também fazia o papel de pai. O pai de Alice, um elemento da nobreza bracarense cuja identidade ela nunca revelou, não assumiu a sua responsabilidade e tinha-as abandonado e deixado à sua sorte porque não podia mostrar à sociedade que havia tido um filho com uma pobre camponesa. Para continuar a ter um teto para dormir e comida para sobreviver, Alice tinha, então, de ajudar a mãe no que ela precisasse e fazia-o com a maior perfeição e alegria, pensando ela, na sua inocência de criança, que um dia viria a ser tratada como as outras crianças que habitavam o Palácio dos Biscainhos. Porém, demorou anos para que isso acontecesse.

A rotina em casa foi sempre a mesma até ao dia 11 de junho de 1820. O dia começava de madrugada com o canto do galo, sendo as empregadas as primeiras a levantarem-se. A D. Maria era a responsável por ir buscar queijo à Queijaria Central para o pequeno-almoço. O senhor Mário, o proprietário, fazia sempre um preço especial (aqui só entre nós, acho que ele sentia algo pela Maria, mas a dúvida ficou sempre por esclarecer). A Queijaria Central era um lugar muito movimentado e muito conhecido pelos seus maravilhosos queijos caseiros, uma delícia! A D. Julieta estava encarregue de ir comprar o café à Casa Negrita, lugar de onde era impossível sair triste pois o senhor António animava toda a gente com as suas anedotas matinais enquanto a encomenda era preparada. Era um espaço amplo, acolhedor e tinha o melhor perfume da cidade: o aroma do café acabadinho de torrar! Ainda ao passar pala Mercearia Meira e Silva, na esquina da Rua dos Capelistas e do Campo da Vinha, a D. Julieta comprava o pão, frutos secos e as alheiras que o Sr. Conde não dispensava para começar o dia cheio de vitalidade. Com todos estes produtos comprados no comércio local, se fazia o pequeno-almoço e se enchia a enorme mesa das refeições do Palácio.

Depois do pequeno-almoço, Maria Angélica e o seu irmão mais velho, João Maria, iam para a escola, que era ainda uma novidade naqueles tempos. Enquanto isso, o Conde e a Condessa faziam a ronda ao palácio para verificar se todos os deveres estavam a ser realizados e, logo depois, partiam para os mais variados sítios das suas propriedades, orientando as diferentes atividades.

A vida no palácio sempre foi assim, apenas umas "guerras" de vez em quando, mas nada de extraordinário, até que no dia 11 de junho de 1820, Teresa Teles de Meneses, faleceu, aos 40 anos, devido a um vírus que terá apanhado numa das suas viagens a África. A partir deste dia tudo mudou, as crianças ficaram muito abatidas, como era de esperar, mas, ao longo do tempo, foram superando. Pior ficou o conde que não conseguiu lidar com a situação e acabou por cair numa grave depressão, pois o amor que sentia pela sua mulher era inexplicável.

Entre 1820 e 1822, os dias naquela casa foram vividos na maior angústia e tristeza. O conde não saía do quarto onde apenas entrava Camila, a mãe de Alice, empregada da cozinha, para lhe levar as refeições pedidas e as mezinhas para a sua recuperação. Aos poucos, a recuperação do Conde Meneses foi-se tornando visível e Camila passou a ser mais bem tratada. Frequentemente, passava por mim a cantarolar, mais alegre, parecia até uma jovem apaixonada!

Comecei a desconfiar ...

Passados uns tempos, a minha teoria comprovou-se. Camila estava mesmo apaixonada, mas era um amor que nunca seria aprovado, pensava eu, preocupado... O romance era com o Conde Meneses e eu sabia que Camila era correspondida, pois um tulipeiro do meu tamanho (cresci muito ao longo de 300 anos!) conseguia ver através daquela janela olhares meigos e gestos cúmplices que mais ninguém conseguia observar. Com o passar dos meses, o Conde já parecia outro, longe de depressões e outras doenças. Já comia à mesa junto da família e, num desses momentos, perante todo o palácio, assumiu a sua nova paixão.

Os seus familiares não reagiram bem, mas o Conde não deixou que nada afetasse aquela relação que todos se viram obrigados a respeitar e aceitar.

Camila deixou de ser uma simples empregada de cozinha e passou a ser a mulher mais importante daquele Palácio. Alice, como nos seus sonhos de criança, foi finalmente aceite pelo conde (claro, já tinham adivinhado, era ele o pai dela!) e, daí em diante, foi tratada como uma verdadeira princesa tal como os outros filhos.

No jardim do Palácio dos Biscainhos, mesmo junto do meu tronco e debaixo dos meus ramos protetores e cúmplices, houve o mais bonito e romântico pedido de casamento de Braga. Quase chorei! O Conde e Camila casaram seis meses depois.

As rotinas antigas voltaram e esta família ganhou uma nova mãe que se manteve humilde e carinhosa com todos na casa como quando era uma empregada sem esperança num futuro mais risonho.

Querem saber mais histórias? Venham daí, que eu, o Tulipeiro da Virgínia, conto!

A Aliança

 Alice Moraes
 Patrícia Melo;
Paula Rodrigues 
Vera Gomes

No ano de 1952, o Dr. Felicíssimo do Vale Rego Campos, presidente da Junta da Província do Minho e o comendador António Augusto Nogueira da Silva, fizeram uma aliança com o objetivo de promover o comércio tradicional de Braga, de que era exemplo a Mercearia Meira e Silva, situada na esquina da Rua dos Capelistas com o Campo da Vinha.

A Mercearia Meira e Silva era uma casa com uma oferta única de produtos diversificados e de excelência, dos quais são exemplo o café, o feijão, os frutos secos, as especiarias e a mercearia, produtos de que estes ilustres bracarense eram clientes habituais. Como se tinham tornado amigos dos proprietários e apreciavam a proximidade e delicadeza com que tratavam todos os seus clientes, consideraram que deveriam contribuir para que este estabelecimento comercial fosse mais conhecido dos habitantes de Braga. Eles próprios tinham memórias de infância das idas àquela tradicional e honesta Mercearia que não queriam esquecer.

Numa tarde de verão, reuniram-se na casa do comendador Nogueira da Silva para decidir o que fazer para promover a Mercearia. O escritório do comendador Nogueira da Silva era um espaço pequeno, acolhedor, mas sofisticado, cheio de obras e objetos que documentavam a sua fortuna material. Por toda a casa, havia autênticas relíquias, desde obras de arte e peças de prata a pequenos amuletos de marfim trazidos dos lugares que visitara. Após uma longa conversa, decidiram fazer um acordo com os donos da Mercearia. Este acordo teria dois momentos distintos: primeiro, eles próprios financiariam umas obras para além da aquisição de mais produtos tipicamente portugueses, como as alheiras ou as ameixas de Elvas; num segundo momento, os proprietários da Mercearia comprometiam-se a restituir o investimento, de acordo com os lucros recebidos. Depois foram falar com os donos da Mercearia Meira e Silva e apresentaram a sua proposta que, no exato momento, foi muito bem recebida. Decidiram colocar de imediato o contrato em prática para que as obras e a aquisição de novos produtos não se atrasassem.

Para comemorar este contrato, o Dr. Felicíssimo decidiu realizar uma festa em sua casa, no Palácio dos Biscainhos, para a qual convidou imensas pessoas de renome. O facto é que este foi um de muitos acordos que o Dr. Felicíssimo e o Nogueira da Silva estabeleceram, com o intuito de ajudar a comunidade e não na busca de reconhecimento como muitos poderiam achar. Ambos eram pessoas empenhadas na promoção do bem não só para as pessoas, mas também para a cidade de Braga. Com esta iniciativa de promoção do comércio tradicional, que começava com a Mercearia Meira e Silva, mas que se estenderia gradualmente a outros estabelecimentos, toda a cidade e todos os bracarenses sairiam beneficiados.

O imenso jardim do Palácio dos Biscainhos estava todo florido, com cores chamativas, aromas de Verão e a água das fontes corria límpida. Todos estavam entusiasmadíssimos com a beleza daquele jardim e com a razão de estarem ali.

Dando início à estratégia de promoção da Mercearia, iam oferecer aos convidados presentes uma ceia no palácio, que seria confecionada com muitos dos produtos mais apelativos da mercearia de modo a promovê-los e chamar a atenção dos convivas.

Durante a ceia, apesar de se encontrarem naquela sala imensos convidados, havia um que se destacava, Alberto Soares, um grande republicano que havia sido retirado do seu cargo de diretor da Biblioteca Pública de Braga, facto que o deixou despeitado. Alberto um homem ambicioso e ganancioso que procurava aumentar a sua fortuna, utilizando qualquer meio para tal.

Alberto Soares ouviu a comunicação que o Dr. Felicíssimo e o Comendador Nogueira da Silva fizeram acerca do seu projeto e percebeu que aquele plano poderia render bastante lucro porque a Mercearia iria tornar-se numa loja cheia de potencialidades. Logo concebeu um plano para ser ele a firmar contrato com a Mercearia Meira Silva: teria que fazer com que as pessoas pensassem que o objetivo de Nogueira da Silva e do Dr. Felicíssimo era obter proveito próprio e não beneficiar a comunidade. Para poder concretizar o seu plano, decidiu pôr rumores a circular (sem sujar a sua própria imagem, apenas insinuando e comentando com conhecidos), consciente de que esta mensagem se iria espalhar de boca em boca e que, à medida que o rumor se fosse espalhando, as pessoas iriam acrescentar sempre uma nova "prova" das segundas intenções que teriam levado Nogueira da Silva e Dr. Felicíssimo a procederem à realização deste contrato com a Mercearia.

Na verdade, à medida que o rumor se ia espalhando, ia aumentando de proporções e, naturalmente, acabou por chegar aos ouvidos não só dos donos da Mercearia como também dos promotores da iniciativa. Os donos da Mercearia não queriam acreditar naquilo que ouviam, no entanto, eram tantos os comentários, que eles já se questionavam se não era mesmo possível ser verdade. Perante os factos, os dois beneméritos questionavam-se sobre o que era correto fazer para garantir que a Mercearia nunca ficasse prejudicada com estes rumores. Nogueira da Silva e o Dr. Felicíssimo pretendiam não só provar que o que as pessoas diziam estava errado, mas também descobrir quem era o responsável, de onde tinha surgido tal rumor. Os dois já andavam desconfiados de Alberto Soares desde o dia da ceia, pois este demonstrara um enorme interesse pela Mercearia, interesse que se tornou mais evidente quando Nogueira da Silva e Dr. Felicíssimo apresentaram o contrato que iriam realizar em conjunto com a Mercearia. Decidiram confrontar Alberto Soares e acabaram por descobrir que ele agira assim, movido pela revolta que sentia por ter sido afastado do cargo que exercia.

Como homens honestos e magnânimos que eram, decidiram dar uma nova oportunidade a Alberto Soares para se redimir dos seus atos, passando este a ter que trabalhar na Mercearia Meira e Silva sem qualquer benefício, tendo que ajudar em tudo o que fosse necessário, tanto na Mercearia como no Palácio dos Biscainhos ou na casa de Nogueira da Silva, até que a sua dívida para com eles lhe fosse perdoada.

Os bracarenses podem estar gratos a estes dois ilustres cavalheiros . Graças a eles, a Mercearia Meira e Silva e outros comércios e instituições, com o benefício destes beneméritos, continuaram a proporcionar aos cidadãos produtos e serviços de qualidade.

Braga, cidade com história e amor

Ana Rita Duarte
Diana Silva 
Mafalda Barbosa

No mês de junho de 1965, uma jovem, de nome Amélia, de olhos verdes, cabelos loiros e bastante elegante, decidiu, com os seus amigos, ir conhecer as festas populares do S. João, em Braga. Desta forma, poderiam, além de aproveitar para conhecer os festejos em honra do santo, matar as saudades dos amigos que tinham de Braga e que já não viam há bastante tempo.

No dia de S. João, o grupo rumou à "cidade dos arcebispos", onde se encontrou com os amigos bracarenses, entre os quais Hélder, um rapaz encantador e bem constituído. Como tinha passado muito tempo desde o último encontro, Hélder apercebeu-se de que Amélia estava diferente, mais bonita e mais interessante pelo que passou a noite sempre ao seu lado. Acabada a festa, Amélia e os amigos que a tinham acompanhado regressaram a Castelo Branco, confessando que tinham gostado muito da cidade e que iriam voltar logo que possível.

O tempo ia passando, mas Hélder não esquecia Amélia, o seu interesse por ela não diminuía, antes pelo contrário. Sentia necessidade de lhe falar, de comunicar com ela e, tomando coragem, enviou-lhe uma carta onde exprimia os seus sentimentos e a convidava a voltar a Braga para que ele pudesse mostrar-lhe melhor a cidade.

O primeiro impulso de Amélia foi aceitar o convite, porém não o pôde fazer por causa das aulas que já tinham começado. No entanto, os dois jovens foram comunicando e, mal ela acabou o secundário, deslocou-se a Braga, considerando que, para além de ficar a conhecer alguns pontos de interesse, também poderia ver se lhe agradaria fazer os seus estudos superiores na Universidade do Minho.

Hélder esperava ansiosamente a chegada de Amélia, pois ainda não conseguia acreditar que iria poder passar alguns dias com a rapariga dos seus sonhos. Quando a foi buscar à estação de comboios, estava muito nervoso, questionando-se "Será que ela vai gostar de mim, como eu gosto dela?"

Começaram a fazer a visita à cidade, no dia seguinte. O primeiro local escolhido por Hélder foi a Correaria Moderna. Resumidamente, contou a história daquela loja: fora criada há cerca de 140 anos e, inicialmente, apenas fabricava bolas para todos os clubes de futebol nacionais. Entretanto, a loja foi-se especializando em material de equitação e de marroquinaria. Enquanto falava, Hélder mostrava a Amélia vários produtos, desde roupa para equitação, selas próprias para a tourada à portuguesa, selins, material de caça e ainda a oficina onde tudo isto era produzido. Amélia ficou encantada ao ver as máquinas antigas que ainda estão a ser usadas, pois os proprietários gostam de manter a tradição no processo de manufaturação dos seus artigos e negam-se a ser absorvidos pela globalização que torna os produtos todos iguais e sem identidade própria.

Continuando o passeio pela velha Bracara Augusta, dirigiram-se ao Museu Nogueira da Silva onde Helder contou a história de amor dos seus pais, afirmando que tinha sido naqueles jardins que ambos se tinham conhecido durante uma visita de estudo das escolas que frequentavam. Como Amélia adorou o jardim, o rapaz decidiu levá-la a conhecer o Museu dos Biscainhos e o seu magnífico jardim. Embora tenha gostado de conhecer o interior daquele palácio barroco, a jovem ficou encantada com a diversidade de espécies vegetais do jardim. Como tinha um grande interesse pela área da biologia, decidiu "presentear" o seu companheiro com algum do seu conhecimento e falou-lhe, então do tulipeiro, originário da Virgínia, que deve o seu nome às suas flores em forma de tulipa, das japoneiras que, como o nome indica, são originárias do Japão, das magnólias de flores grandes e exuberantes .... Hélder estava cada vez mais fascinado por Amélia.

Como a fome já apertava, ele decidiu que o lanche seria nas Frigideiras do Cantinho, um café fundado em 1796 e que é o estabelecimento de restauração mais antigo da cidade. A casa é conhecida pelas suas famosas frigideiras, uma empada de carne e massa folhada cuja receita centenária passa de geração em geração mas não é divulgada ao público. Ambos confirmaram a justiça da fama de que este petisco goza. Sabendo da história da casa, depois do lanche, Helder pediu ao dono do café que lhes mostrasse melhor o local. Então, puderam visitar as ruínas, que são visíveis através do vidro que reveste o chão, mesmo por baixo da área onde os clientes são servidos e que são importantes achados arqueológicos da época romana (séc. II e III) quando Braga era conhecida por Bracara Augusta. Ouviram da boca do proprietário toda a história do edifício.

Tinha sido um dia fantástico e Amélia estava grata a Hélder por ter sido o seu cicerone na cidade. No entanto, este era apenas um dos muitos dias que iriam passar juntos. Hoje, decorridos já sete anos, continuam juntos e a pensar em casamento que gostariam de realizar no belo jardim do Museu dos Biscainhos.

O que seria dos museus, dos jardins e até das casas de comércio tradicional se não existissem olhos curiosos e amantes da História?

© 2018 Laura & Henrique. Todos os direitos para um dia bonito reservados
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