Torrefação Bracarense

Torrefação Bracarense

"OLHAR BRAGA" - Património local e escrita criativa

Estes trabalhos, integrados nas Jornadas Europeias do Património 2018 - "Partilhar Memórias", em parceria com a Câmara Municipal de Braga, encontram-se editados em Brochuras.

O roubo misterioso

José Gomes
Lucas Mendes 
Sérgio Pereira


Nos primórdios de 1930, nasceu, na Rua do Castelo, no coração da cidade de Braga, uma loja, a Torrefação Bracarense, da qual emanava um delicioso cheirinho a café logo pela manhã. O senhor Camilo Cândido criou esta loja para alegrar o bom povo bracarense com a criteriosa mistura de vários cafés que cada cliente poderia combinar a seu gosto. A loja crescia a níveis exorbitantes, a cada dia havia mais clientes novos, até que certo dia... Um terrível ser humano de mente maléfica decide tentar arruinar o negócio por pura inveja daquela loja ter tanta clientela. Então esse homem, obcecado em acabar com o negócio, esteve várias semanas seguidas a engendrar um plano maquiavélico para conseguir roubar as principais máquinas da loja para que não conseguissem fazer a mistura de cafés para a clientela. Como naquele tempo não existiam câmaras de segurança, o homem terá então estudado os horários de todos os funcionários da loja de maneira a encontrar uma hora em que não estivesse ninguém dentro das instalações e, depois de semanas a procurar essa hora exata em que devia atuar, finalmente conseguiu descobrir que iria haver um jantar da empresa no dia 25 de maio, à noite. Nesse dia, o sujeito usou um clip para abrir a porta e entrou sorrateiramente pela loja dentro; quando olhou para as máquinas, sorriu de felicidade por estar a conseguir realizar o seu plano. Ficou parado a olhar para as máquinas por alguns segundos, mas lembrou-se que tinha que continuar com o plano, pegar nelas e sair de lá rapidamente. Atuou o mais rapidamente possível com o carrinho que tinha levado para o transporte das máquinas até ao seu esconderijo, onde escondeu todo o equipamento principal da loja. Como estava exausto de tanto esforço que tinha feito durante semanas a engendrar o plano, rapidamente adormeceu. Quando os raios de sol começavam a aparecer logo pela manhã e muitos bracarenses já se dirigiam até à Torrefação Bracarense para fazerem as suas compras habituais, ficaram surpresos por não conseguirem sentir o cheirinho a café e a cevada acabados de moer logo pela manhã. Quando olharam para dentro da loja, viram os funcionários desesperados, aos gritos, a dizer que as máquinas tinham sido roubadas. Naturalmente, ficaram tristes por não terem o seu café acabado de moer logo pela manhã nem puderem sentir aquele cheirinho bom para começar o dia. Após alguns minutos de tristeza, começaram a mostrar indignação e queriam ajudar a recuperar as máquinas rapidamente para que pudesse haver outra vez aquele aroma inconfundível a café na belíssima cidade de Braga. Começaram por tecer algumas hipóteses sobre quem poderia ter feito tal coisa, e foi então que se lembraram de falar com o dono da loja e perguntar-lhe se havia alguém interessado nas máquinas ou que não gostasse dele. Só nesse momento é que o Sr. Camilo Cândido começou a pensar no assunto ... mas não lhe vinha ninguém à mente que tivesse motivos para fazer tal coisa. Dias se passaram e os bracarenses cada vez estavam mais desanimados por não terem o seu café até que, certo dia, decidiram chamar detetives profissionais para investigar o caso. Quando os detetives chegaram à loja, explicaram-lhes o ocorrido e, de imediato, começaram a investigação, procurando por provas até que descobriram uma marca de mão gigante. Quiseram examinar as mãos de todos os funcionários e nenhuma delas era assim tão grande; então, decidiram perguntar à população se alguém conhecia quem tivesse as mãos com um tamanho muito maior que o normal. Alguns bracarenses disseram que sim, que conheciam um sujeito que passava sempre pela Torrefação Bracarense com cara de zangado sempre que olhava para a loja e que vivia perto de uma bomba de gasolina na zona de Merelim - S. Pedro. Os detetives sorriram porque sabiam que já tinham uma grande pista e começaram a procurar pela zona de S. Pedro possíveis locais de esconderijo. Foram semanas de intensa investigação até que chegou o dia em que olharam para dentro de uma fábrica abandonada e viram um sujeito de mãos gigantes deitado ao lado de umas máquinas. Avançaram devagar para que não acordasse, aproximaram-se dele e prenderam-no, tendo o cuidado de lhe atar as grandes mãos com cordas para que não as pudesse usar. Logo depois, levaram as máquinas e o ladrão até ao dono da loja para que se desse por encerrado o caso do roubo das máquinas da Torrefação Bracarense que tinha provocado um grande descontentamento da população bracarense durante muito tempo. Quando os detetives chegaram à loja com as máquinas e o ladrão, o dono olhou para as máquinas e sorriu, mas quando os detetives retiraram a máscara do ladrão, Camilo começou a chorar porque, quando olhou para o rosto do sujeito, viu que se tratava do seu irmão com quem não falava há anos... Camilo perguntou ao irmão por que motivo tinha feito aquele roubo; o homem das mãos grandes respondeu que não aguentava mais ouvir as pessoas dizerem que aquela loja era a melhor de Braga e que estava cansado de ser o irmão fracassado que, por causa das mãos gigantes, não conseguira nada na vida ... Ao ouvi-lo, Camilo ficou profundamente triste por não ter percebido que o irmão estava a sofrer e por não ter feito nada para o ajudar. Depois de conversarem longamente, como há muito tempo não faziam, Camilo pediu ao irmão para ser o seu ajudante na loja pois precisava de diversificar o negócio. O irmão, com lágrimas a escorrer, respondeu com um sim, abrindo o rosto num largo sorriso de satisfação. Os irmãos uniram-se e continuaram a com a história da loja que até hoje se mantém em funcionamento. No dia seguinte, bem cedo, os bracarenses começaram a sentir o cheirinho a café e começaram a correr rapidamente para a Torrefação Bracarense. Quando chegaram, choraram de felicidade, aos abraços uns aos outros por perceberem que as máquinas estavam de volta e que já havia café outra vez, o elixir das suas vidas.

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